sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Insinuação - Gisele Souza

Livro: Insinuação
Autora: Gisele Souza
Editora: Independente
Casal: Liz e Heitor

Sinopse: A beleza da vida está na simplicidade das coisas. Um olhar carregado de insinuações pode transmitir muito mais do que palavras conseguem traduzir. 
O misterioso Heitor Teles é um homem de origem humilde, que batalhou por cada conquista na vida. Apesar do bom humor e charme cativante, o dono do Beer At The Bar caminhou nas sombras por muitos anos, expurgando seus pecados. Quando tudo parecia ter se perdido, ele encontrou a paz que tanto almejava e a esperança de redenção. 

Liz Queiroz conheceu Heitor em seu momento mais frágil, de alguma forma se conectou a ele muito mais do que deveria e precisou se afastar. Mas seus sentimentos eram fortes e reais demais para ignorá-los. Por mais que fosse se machucar, ela precisava dar uma chance. 
Só não contava que os fantasmas do passado retornariam. Um segredo capaz de destruir o que restava da esperança precisava ser revelado. Como perdoar o erro que custou mais que sua alma?
?

Impressão do Leitor

“Um homem não é outra coisa senão o que faz de si mesmo” (Jean-Paul Sartre).

Nem sei como começar a falar sobre esse livro. A Gisele conseguiu mexer tanto com meu emocional com essa história, com suas revelações! Posso afirmar, categoricamente, que esse é, de longe, o livro com a maior carga emocional e dramática de toda a série. Ainda estou perdida com meus pensamentos e tantos sentimentos que conflitam e ao mesmo tempo se complementam.
O livro traz a história de Heitor e Liz. Ambos já apareciam nos volumes anteriores, mas nesse conseguimos, finalmente, desvendar e compreender até a alma desse casal. Heitor é um homem bem resolvido profissionalmente, mas muito misterioso, era visível que ele construiu um escudo protetivo ao seu redor, não permitindo que as pessoas que ele mais amava na vida tivessem acesso ao lado mais obscuro de seu passado, que ele lutava para fugir, apagar, das maneiras mais diversas e mais perigosas possíveis. Essa aura misteriosa de Heitor sempre foi o que me atraiu e me fez esperar ansiosa pelo seu livro. Confesso que levantei inúmeras hipóteses, em algumas até cheguei perto, mas nunca, em tempo algum, podia imaginar que fosse um drama como esse.
Heitor busca se punir por seu passado, diria que beira o autoflagelo; tenta afastar as pessoas que amava para não as permitir entrar e expô-las ao perigo que ele considerava ser. No fundo, acho que Heitor buscava se blindar, pois não conseguiu mais suportar tanto sofrimento, e tinha um medo forte de viver tudo aquilo novamente. Com isso, Heitor não se permitia viver em sua plenitude, em nada que se propunha a fazer; vivia esquivando-se e fugindo de tudo que podia fazê-lo feliz; era como se não se sentisse merecedor da felicidade, do dom da vida. Até que conheceu Liz, em uma situação, para variar, extremamente dramática.
Liz era uma médica muito competente no que fazia, extremamente dedicada ao seu ofício e juramento. Contudo, apesar de amar seus pais profundamente, sentia-se sozinha, porém, não conseguia envolver-se em relacionamento amorosos, por temer mais desilusão e humilhação, como as que sofrera no passado. Só não contava com esse encontro, predestinado, diga-se de passagem, com Heitor. O magnetismo foi tão forte, que digamos, somente a presença de Liz foi capaz de “trazê-lo de volta à luz”. E aí começa o drama desse casal.
Ao mesmo tempo que não negavam a enorme atração que os conectava, não conseguiam entregar-se por completo, pois acabaram construindo essa relação de uma forma equivocada. Liz resolveu perceber em Heitor uma segunda chance para amar, mas delegando a ele a responsabilidade de fazê-la feliz. Em contrapartida, Heitor a via como sua luz, como sua redenção, como uma forma de sublimar o seu passado. Na minha opinião, aí consistia o equívoco. Não é possível buscar a felicidade somente no outro e pelo outro, é preciso que tenhamos consciência de que somos os únicos responsáveis por nosso sucesso e nossa felicidade. O outro é um complemento a isso. Para fazer alguém feliz, preciso estar bem resolvido comigo mesmo, entendendo que dificuldades existirão, mas que, me autoconhecendo, consigo transpô-las sem responsabilizar ou culpabilizar o outro ou a si próprio.

“Você precisa trazer minha luz de volta! Só ela pode me tirar das sombras. ” (Heitor).

“Não sou a salvação de ninguém. Apenas você pode fazer isso por si mesmo, Heitor. É bom colocar isso na sua cabeça antes que magoe alguém” (Liz).

Diante de todo o drama que regeu a vida de ambos, com perdas, decepções, lutos, vocês podem imaginar a grande dificuldade que tinham para autoconhecer-se, para compreender que não é possível apagar o passado, mas existe a possibilidade de aprender a conviver com isso e apesar disso.
Quando o casal se deu conta de tudo isso, precisaram lutar, aparentemente e necessariamente sozinhos para amadurecer; compreender e aceitar suas questões, dificuldades, defeitos e qualidades. Isso era primordial para buscar a felicidade, sem o pensamento utópico de que o amor que nutriam um pelo outro apagaria toda dor e sofrimento que vivenciaram. Esse amor seria sim responsável por ajudar a lidar e aceitar o passado e suas dores, mas sobreviveriam apesar de tudo e acima de tudo. Eles não salvaram um ao outro, aprenderam a se ajudar e complementar, aprenderam que podem ser felizes e que tem esse direito. É lindo e sofrido ver o crescimento, a libertação e redenção das personagens, lidando com suas questões e com sofrimento oriundo de todo esse processo.

“Eu vivi sendo apenas um pedaço por muito tempo, carreguei uma culpa que não tinha tamanho e acreditei realmente que tinha responsabilidade das coisas ruins que me aconteceram. Por caminhar tanto tempo sozinho e na escuridão, eu esqueci como era ver a luz; quando você apareceu na minha vida, vi uma chance de tentar ser feliz de novo. Achei que Deus não poderia ter colocado alguém tão especial no meu caminho se eu não tivesse uma chance de redenção. Só que não me dei conta de que eu nunca poderia ter essa chance se não perdoasse a mim mesmo. Ainda não o fiz, Liz...” (Heitor).

“... E você não lutou minhas batalhas, mas me mostrou o caminho para que eu pudesse vencer sozinho” (Heitor).

Um aspecto que me encantou nesse livro foi o fortalecimento das relações entre todos os casais dos livros anteriores. Gisele nos brindou com cenas incríveis protagonizada por eles! O que foram aquelas cenas românticas, com a expressão mais pura e sublime do amor? Cenas que nos brindavam com tanto amor, amizade, que nos ensinavam os diversos significados de família, de amor fraterno, de proteção, segurança e acolhimento. Percebe-se que, apesar de termos que lidar com nossos fantasmas internos sozinhos, esse amor familiar (em todas as suas nuances) facilita muito esse processo. A unidade que eles se tornaram, deu um que de suavidade a esse romance. Tudo muito bem escrito e delineado, sem brechas, só complementos.
Esse livro é tão intenso que confesso, fui dormir inúmeras vezes soluçando e com os olhos inchados de tanto choro extravasado. Choro com diferentes significados... Choro pela perda, pela dor, pela saudade, pelo amor intenso e verdadeiro, pela entrega, pela amizade, pela família, pelas descobertas e revelações... esse livro me trouxe várias questões para reflexão, mas apesar de difícil, tento sinalizar uma que mais me marcou: devemos viver nossa vida intensamente, dizer o quanto nos amamos e amamos o outro... entender que nem tudo está sob nosso controle e precisamos viver apesar disso. Fez eu refletir que a vida não é nada fácil, é cheia de dramas reais, mas que podemos viver e aceitar essas dificuldades como parte de nosso crescimento e amar tão intensamente e com todos os seus significados.
Sou realmente grata à Gisele por me proporcionar tantos sentimentos diversos em um mesmo capítulo e em todo o livro. A sensibilidade, o amadurecimento de todos os personagens ao longo dos 4 livros foi incrível e marcante. Esse livro é simplesmente lindo, por tudo isso que descrevi, por todos os sentimentos que desperta, por tratar de temas tão cheio de significados e realidade, por toda intensa carga emocional e ao mesmo tempo, contrabalanceando, temas cercados de suavidade e sensibilidade. Definitivamente essa série é uma das minhas favoritas e esse livro, com toda certeza é um dos que mais me marcou nos últimos tempos, me fez ver como somos frágeis, mas como somos belos exatamente por nossas fragilidades, por nossa capacidade de sobrepô-las, por nossa capacidade de resiliência. Simplesmente incrível! Recomendo muito essa leitura.

“Encontre a sua inspiração e a qualquer impulso do destino se entregue ao ímpeto de se apaixonar perdidamente por alguém ou alguma coisa, submeta-se completamente às boas insinuações da vida” (Layla).


“Carpe diem, quam minimum crédula póstero, que significa: ‘Aproveite o dia de hoje e confie o mínimo possível no amanhã’” (Heitor).

2 comentários:

  1. Resenha mais linda do meu menino quebrado. Paula, como sempre você me emociona com suas palavras e carinho com meu trabalho. Heitor é um personagem marcante e que foi muito difícil de criar. Agradeço tanto a sua paixão pelos meus meninos, muito obrigada mesmo!!!

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    1. Gi, seus livros sempre trazem mensagens que me marcam profundamente. Amo todos os seus livros, mas o do Heitor deixou uma marca a ferro e fogo no meu coração.

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